A Nave dos Loucos

O quadro, A Nave dos Loucos, exposto em Paris, geralmente atribuído ao período intermédio do Bosch, condena mais veemente e claramente frades e freiras. Ilustra duas freiras ou bequinas que se divertem com um grupo de camponeses num barco construído de forma estranha: seu mastro é construído por uma arvore com folhas, um ramo partido serve de leme, estando sentado no cordame à direita um louco.
Devido a esta figura, muitos autores viram alguma relação entre este quadro à Nau dos Loucos, de Sebastian Brant, cuja popularidade contemporânea é mostrada pela publicação de seis edições e numerosas traduções do poema, quando o autor ainda era vivo, Bosch deve ter conhecimento para a sua pintura, pois a nau era uma das metáforas mais populares da idade Média. O navio da igreja, por exemplo, com uma tripulação constituída por prelados e sacerdotes que levava as almas cristãs ao porto seguro do Céu, era uma imagem muito conhecida. Na peregrinação da vida humana, de Guillaume de Deguilleville. O navio da religião é equipado com um mastro que simboliza a cruz, representando cada castelo uma diferente ordem monástica.
Poderia pensar-se que Bosch conheceu a descrição do navio de Deguillevile e que sua pintura devia ser entendida como uma sátira ao mesmo. A bandeira cor-de-rosa flutuante possui a meia-lua turca em vez da cruz e na folhagem, no alto do mastro, esconde-se uma coruja. Três representantes da vida monástica negligenciam as suas obrigações religiosas para darem azo, às suas devassidões mundanas. O frade e uma das freiras cantam em voz alta, a outra freira acompanha a canção com um alaúde: parecem os pares amorosos representados em quadro medievais mais evidentes, tocam e cantam em conjunto.
A alusão ao pecado da Luxúria é apoiada por outros símbolos que remetem para os tradicionais jardins de amor. O prato com cerejas e o jarro metálico de vinho, pendurado de fora da borda, são requisitos que também aparecem na representação de Bosch do pecado da Luxúria no tempo de mesa de Prado. Sem duvida, existe também uma representação da Gula não só na imagem do camponês que corta um ganso assado atado ao mastro. Este pecado foi também cometido pelo homem que está nitidamente indisposto e pelo homem com a enorme colher. Ao lado do barco aparecem dois nadadores nus, um dos quais levantado a sua malga de vinho vazia, implora o seu enchimento. A arvore que substitui o mastro correspondente, na opinião de alguns peritos, talvez à arvore de maio das festas da primavera nas aldeias, onde o povo e os clérigos se juntavam para se divertirem e se dedicarem a devassidões.
Finalmente, a figura do louco sentado no cordame, a beber com sofreguidão, remete implicitamente para a imoralidade que tinha lugar na nave. Durante séculos, os bobos da corte gozaram de liberdade de poder censurar, sorrindo ironicamente, os costumes da sociedade, e é nesta qualidade que aparecem como críticos dos costumes das litografias e pinturas de meados do século XV. Envergam, normalmente, barretes de bobo. Adornados com orelhas de burro, trazendo na mão uma vara encimada por uma pequena replica das suas próprias feições grotescas. Os loucos encontram-se frequentemente entre bebedores e pares amorosos. Saltitando como uma representação da Luxúria no quadro dos pecados mortais do Prado, onde revela a estupidez de toda essa concupiscência.

ADILSON VALENTIM

Fonte: BOSING, Walter. A Obra de Pintura: Bosch.

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