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Mostrando postagens de 2009

Psicanálise e Modernidade. Cláudia Henschel de Lima

Quarenta e cinco anos nos separam do marco da teorização do objeto a no ensino de Lacan: o seminário sobre a angústia - ponto de partida para a separação entre o real e o significante, para a pluralização dos objetos a e sua localização na anatomia de um corpo irredutível ao formalismo. Entre este seminário, com suas referências naturalizantes, e o seminário O Avesso da Psicanálise recoberto pelas luvas de Marx, um avanço importante ocorre em seu ensino: trata-se do movimento de transportar o objeto a - até então pluralizado nos diversos pedaços do corpo - para a atualidade histórica através dos quatro discursos. Entre os anos de 1964 e 1969, localizamos no seminário sobre Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise - onde o objeto a é a presença de um vazio que pode ser ocupado por qualquer objeto, sem hierarquia de valor - e em De um Outro a outro, onde avança sobre a homologia entre mais-valia marxista e mais gozar, as bases desta alavancagem conceitual, que será apresentada em

Ethos moderno em Baudelaire. Cláudia Henschel de Lima

( Trecho do artigo sobre psicanálise e literatura na modernidade ainda no prelo). Um dos traços mais marcantes do século XX foi a elaboração de uma concepção crítica a respeito da contemporaneidade. Cito como exemplo, o pensamento de Martin Heidegger, Hanna Arendt, Michel Foucault e, na psicanálise, de Jacques-Alain Miller. São pensadores que, no campo filosófico e analítico, abordam a contemporaneidade problematizando sobre a atualidade e o posicionamento assumido pelo intelectual diante das transformações dos saberes e das relações de poder. No caso específico de Michel Foucault, é importante ressaltar o que ele próprio denominara de ontologia do presente, extensamente analisado em “O que são as Luzes?”. Nesse artigo, Foucault elabora uma definição precisa da ontologia do presente. Trata-se de conduzir uma “genealogia, não tanto da modernidade, mas da modernidade como questão”, ou seja, é tornar a modernidade um enigma para o pensamento filosófico. Dessa forma, a ontologia do p

Os sintomas neuróticos em O homem dos ratos

Laplanche define a neurose obsessiva como “Classe de neuroses definidas por Freud e que constituem um dos principais quadros da clínica psicanalítica. Na forma mais típica, o conflito psíquico exprime-se por sintomas chamados compulsivos*(idéias obsedantes, compulsão a realizar atos indesejáveis, luta contra estes pensamentos e estas tendências, ritos conjuratórios, etc) e por um modo de pensar caracterizado particularmente por ruminação mental,dúvida, escrúpulos, e que leva a inibições do pensamento e da ação” A partir desta definição, podemos realizar um levantamento de alguns sintomas, típicos, presentes no caso “O Homem dos ratos”. O jovem paciente busca tratamento com a principal queixa de possuir idéias obsessivas que o faziam sentir medo de que algo acontecesse a seu pai ou a dama por quem tinha admiração. Algumas dessas idéias pareciam conexões falsas como quando era criança, sentia um forte desejo de ver moças despidas. Contudo, com esse desejo, veio o sentimento de que al

Jornal do Brasil - Sociedade Aberta - Adolescência: o cabo de guerra com as drogas

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O Anfiteatro de Anatomia de Leiden e a consolidação de uma ciência da vida e de uma anatomia política do corpo

O anfiteatro de anatomia de Leiden, representado pela gravura de W. Swanenburg (1610), é o cenário no qual ocorrerá uma das mais fundamentais rupturas epistemológicas localizadas a partir da passagem do século XVI para o século XVII: a ascensão de um conhecimento científico sobre a vida destituído das formas da semelhança que dominaram o Renascimento e a abertura de uma crise na estruturação do saber ocidental, que culminará no recuo de uma metafísica da vida centrada em Deus. Sua arquitetura é a do teatro no qual se espalham e se misturam a vida e a morte. No centro, encontramos um visitante que, com gesto teatral ergue um lençol e desvela, para o espectador, a tábua de dissecação onde o anatomista exercerá, a partir de então, seu ofício. Sobre a mesa, jaz um corpo sem vida, aberto e trabalhado – indicando o ponto de partida de uma modificação nas formas da visibilidade, que se consolidará definitivamente a partir do século XIX e possibilitará esclarecer a ligação entre o homem e a fi

Extração do objeto a e constituição da realidade.

Extração do objeto a e constituição da realidade psíquica: pontuações clínicas sobre a psicose. “Quando fazemos diagnóstico em psicanálise, o que afinal fazemos? Como tratar o sintoma na psicanálise?” Essa pergunta fora colocada por Jacques-Alain Miller em Comentario del Seminário Inexistente (1992), no qual definira com precisão o recuo, no ensino de Lacan, do Nome-do-Pai como metáfora e a ascensão da teoria do objeto a. Além disso, definira também as coordenadas da clínica analítica a partir deste vetor conceitual. Trata-se de determinar o modo como um sujeito defende-se (ou não) do real por meio do simbólico, de determinar as possíveis invenções que possibilitem a um sujeito evitar os maus encontros com o real. Essa orientação clínica no sentido de isolar o sujeito como resposta do real, não ignora a originalidade da tese que Freud (1924) elaborara em “A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose” a respeito da constituição do campo da realidade na neurose e na psicose. Trata-s

Transcrições de textos freudianos que se reportam ao uso de substâncias psicoativas.

Três transcrições importantes: 1)Carta 55 a Fliess “O que determina o surgimento de uma psicose (...) é o fato de o abuso sexual ocorrer antes do fim do primeiro estádio intelectual (...). Foi assim que cheguei a essa outra visão. Um de meus pacientes histéricos... levou sua irmã mais velha a uma psicose histérica, que terminou num estado de completa confusão. Agora averigüei qual foi o sedutor dele, um homem de grande capacidade intelectual que, no entanto, tinha tido ataques da mais grave dipsomania a partir dos seus cinqüenta anos. Esses ataques começavam regularmente ou com diarréia ou com catarro e rouquidão (o sistema sexual oral!) – isto é, com a reprodução de suas experiências passivas. (...) A dipsomania surgiu através da intensificação – ou melhor, através da substituição de um determinado impulso pelo impulso sexual correlato. (Provavelmente o mesmo se aplica à mania de jogatina do velho F.)”. (Freud, S. 11 de janeiro de 1897). 2)Carta 79 a Fliess “Comecei a compreende

1918: direção de tratamento em psicanalise, algumas transcrições.

Freud traça um raciocínio acerca da direção de tratamento psicanalítico no tocante a manutenção de uma privação no paciente de forma o tratamento seja bem sucedido. “Lembrar-se-ão os senhores de que foi uma frustração que tornou o paciente doente, e que seus sintomas servem-lhe de satisfações substitutivas. (...) Cruel como possa parecer, devemos cuidar para que o sofrimento do paciente, (...) não acabe prematuramente. Se devido ao fato de que os sintomas foram afastados e perderam o seu valor, seu sofrimento se atenua, devemos restabelecê-lo alhures, sob a forma de alguma privação apreciável; de outro modo, corremos o perigo de jamais conseguir senão melhoras insignificantes e transitórias”. (Freud, S. 1918). Tecendo uma critica a Escola Suíça, Freud (1918), vai colocar que tentar fazer do paciente uma cópia do médico é um erro grosseiro e que a Psicanálise não coaduna com tal postura. O paciente não deve ser uma copia dos ideais do médico, mas sim ser livre neste aspecto para poss

OS INCLASSIFICÁVEIS DA CLÍNICA PSICANALÍTICA: CASOS QUE FOGEM À CLÍNICA DIFERENCIAL NEUROSE x PSICOSE.

INÍCIO: 19 DE OUTUBRO DE 2009. HORÁRIO : 18:00HS LOCAL: AVENIDA PADRE ELIAS GORAYEB, 15, SALA 207. TIJUCA. PÓXIMO AO METRÔ DA PRAÇA SAENS PENA. INSCRIÇÃO : COM FLÁVIA PELO TELEFONE 3439-3365. (11:00HS ÀS 20:00HS). VALOR: R$100,00 POR MÊS. COORDENAÇÃO: PROFESSORA CLÁUDIA HENSCHEL DE LIMA. PÚBLICO-ALVO: ESTUDANTES E PROFISSIONAIS EM PSICOLOGIA, FONOAUDIOLOGIA, ENFERMAGEM APLICADA À SAÚDE MENTAL, PSIQUIATRIA. TÓPICOS CONTEMPLADOS NO CURSO: 1. A CLÍNICA DIFERENCIAL EM PSICANÁLISE: RECALCAMENTO E FORACLUSÃO (NP - NP0). 2. A SINTOMATOLOGIA NEURÓTICA NA CLÍNICA DIFERENCIAL. 3. A CLÍNICA DA PSICOSE A PARTIR DA FORACLUSÃO DO NOME-DO-PAI. 4. SINTOMAS CONTEMPORÂNEOS E DESREGULAÇÃO DA LIBIDO: TOXICOMANIAS, DEPRESSÃO, ANOREXIA, BULIMIA. 5. PSICOSES ORDINÁRIAS E CLÍNICA CONTEMPORÂNEA.

APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO NA SAÚDE MENTAL: PSICOSE E FORACLUSÃO DO NOME-DO-PAI

INÍCIO : 26 DE OUTUBRO DE 2009. HORÁRIO: 18:00HS. FREQUÊNCIA: QUINZENAL VALOR: R$100,00 POR MÊS. COORDENAÇÃO : PROF. CLÁUDIA HENSCHEL DE LIMA INSCRIÇÃO: SECRETÁRIA FLÁVIA PELO TELEFONE 3439-3365. (TURMAS COM 4 PESSOAS) LOCAL : AVENIDA PADRE ELIAS GORAYEB 15, SALA 207. TIJUCA (PRÓXIMO À ESTAÇÃO DO METRÔ SAENS PENA) OBJETIVO: SUPERVISÃO VOLTADA PARA OS IMPASSES DA CLÍNICA CONTEMPORÂNEA, VERIFICADOS NA SAÚDE MENTAL: TÓPICOS QUE SERÃO COTEMPLADOS NA SUPERVISÃO: 1. CONSTRUÇÃO DE CASO CLÍNICO 2. PSICOSE E FORACLUSÃO: A PRIMEIRA CLÍNICA DE LACAN. 3. FENÔMENOS ELEMENTARES. 4. DIREÇÃO DE TRATAMENTO.

ABERTURA DE NOVA TURMA DE SUPERVISÃO

ADOLESCÊNCIA E USO DE DROGAS

Quando falamos em uso de drogas, normalmente associamos ao uso das drogas ilícitas, por exemplo, a maconha e a cocaína. Essa associação se deve ao próprio índice de consumo elevado dessas substâncias. Em 2007, a maconha ocupava o primeiro lugar e a cocaína o quarto lugar, no índice de consumo de substâncias pelos brasileiros. No entanto, ocupando o segundo e terceiro lugares, encontramos substâncias que podem estar guardadas em um armário ou gaveta de qualquer brasileiro: a acetona e remédios para dormir. Será que isso quer dizer que o simples fatos de termos tais substâncias em casa, é um motivo suficiente para que um filho as consuma e se torne dependente?Aqui, entra nossa consideração sobre a adolescência. Não raras vezes, usamos um nome para nos referirmos à essa etapa da vida pela qual todos nós passamos: aborrescência. Com essa palavra, damos nome à esse momento da vida, que mais parece uma crise, onde o adolescente questiona as regras sociais, se comporta com rebeldia frente aos

Consumo de Substâncias Psicoativas no Brasil.

A prevalência do consumo de substâncias psicoativas lícitas, foi recentemente evidenciada tanto por meio dos dados sobre o consumo nacional de substâncias psicoativas dos anos de 2005-2007 - obtidos através da parceria entre a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) e o CEBRID – como pelos dois últimos relatórios, publicados pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (UNODC), em 9 de setembro de 2008 e em junho de 2009.. A reprodução da tabela do CEBRID sobre o consumo de substâncias psicoativas no Brasil (Tabela 1), permite constatar que as drogas lícitas – como é o caso dos benzodiazepínicos e orexígenos – são as mais consumidas no Brasil, ultrapassando o consumo de cocaína, por exemplo, que é o principal alvo da luta antidrogas dos países latino-americanos. A evolução do consumo nas drogas lícitas é confirmada, ainda, pelos dados relativos a produção e consumo de anfetaminas e metanfetaminas, presentes no relatório do UNODC de 2008 e 2009. Evidencia-se que a prescrição

A IDENTIFICAÇÃO DO PAI E A FORMAÇÃO DO SINTOMA NEURÓTICO NO CASO DO HOMEM DOS RATOS.

A IDENTIFICAÇÃO DO PAI E A FORMAÇÃO DO SINTOMA NEURÓTICO NO CASO DO HOMEM DOS RATOS. “Se tenho esse desejo de ver uma mulher despida, meu pai deverá faltamente morrer” Para olhos menos atentos apenas manias excêntricas, mas para Freud um caso clássico de neurose obsessiva se apresenta, quando em analise este homem notoriamente conhecido como homem dos ratos é ouvido, e em seu discurso sua condição se revela. Durante anos de sua vida se fez presente tal quadro, buscarei identificar a figura do pai em sua patologia, como também a formação de seus sintomas. A figura de seu pai esteve tão presente pra ele que não foi sem surpresa que Freud veio descobrir só depois de um certo tempo de analise com seu paciente que o pai de fato já era morto, e em sua narrativa dos fatos para ele não havia distinção do pai vivo do morto em seus efeitos, pai este que para o paciente era o agente castrador de seus desejos, e nessa ambivalência de amor e ódio, o efeito do olhar do pai sobre ele esteve

tudo o que você sempre quis saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar

NEUROSE E PSICOSE DESCRIÇÃO DA CENA: Um seio enorme avança ameaçadoramente por um campo aberto, na direção de nosso herói (Woody allen) que o aguarda, ao chegar perto, o seio começa então a investir contra ele, tentando esmagá-lo, e ao mesmo tempo esguichando seu leite mortal, nosso herói então começa a driblá-lo, em um zigue –zague constante pra não ser atingido, então chega a hora de usar a sua arma secreta, a cruz que ele trazia em seu bolso, sacando-a, ele a mira na direção do grande seio, só que não tem o efeito desejado, ele insiste, mas o seio avança, então... ele o atrai pra uma armadilha, onde escondido atrás de uma cortina há um grande sutiã, e esse finalmente consegue deter o seio. A cena descrita é do filme Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar, (Everything You Always Wanted to Know About Sex (But Were Afraid to Ask), de Woody Allen, que será usada como pano de fundo para comentarmos dois dos textos de Freud, Neurose E Psicose (192

O Diagnóstico no Caso Único e a Teoria do Objeto a

1. Introdução “Uma vez roubada, usurpada, Libido não sucumbiu na prisão erguida pelo Pai (...). Libido não morreu, mas se fez nuvem, água, manancial, torrente. Eu a vertia – dizia o Pai – no tonel das Danaides; ali estava resguardada. Mas sabemos o que ele não sabia: essa não era uma caixa que pudesse retê-la. Pai, não vês que fujo, que escapo, que precipito o incêndio? Não, o Pai não via que Libido se ia e que, no deserto, mil oásis floresciam. O pai acreditou estar enterrado junto com Libido. E o sujeito acreditou – acreditou que o Pai a tinha, com um abraço, na morte. Durante esse tempo, Libido se metabolizava alegremente sem que ninguém a reconhecesse. E o sujeito era feliz sem o saber”. O mito elaborado por Miller (2005) exprime com precisão o limite teórico-clínico da teoria do Pai em Lacan: a categoria de gozo impôs tal limite. Neste sentido, o avanço conceitual da teoria do pai a partir, principalmente do final dos anos 60, parece confirmar o caráter problemático das três gra

O QUE É PRECISO PARA VIVER UM GRANDE AMOR?

"O que é preciso para viver um grande amor?” Cláudia Henschel de Lima (Psicanalista e professora universitária. Coordena o Núcleo de Pesquisa em Toxicomania e Alcoolismo do Instituto de Clínica Psicanalítica do Rio de Janeiro e o Laboratório de Investigação em Psicopatologia Contemporânea). Equipe de alunos que auxiliou na busca de dados: Adilson Pimentel Valentim, Carlos Emmanuel Rocha, Natália Rodrigues – alunos do 7 período do curso de Psicologia do Uni-IBMR) No dia primeiro de março, o programa Fantástico exibiu uma matéria sobre desempenho sexual do brasileiro e a descoberta da pílula do amor. A matéria tinha como base duas pesquisas: a primeira, conduzida pela psiquiatra Carmita Abdo, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, que concluiu que 47% dos brasileiros fazem sexo sem vontade; e a segunda, comandada por Larry Young na Universidade de Emory (no estado americano da Geórgia), que observou o comportamento de roedores e concluiu que as fêmeas que recebem dos
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A Nave dos Loucos O quadro, A Nave dos Loucos, exposto em Paris, geralmente atribuído ao período intermédio do Bosch, condena mais veemente e claramente frades e freiras. Ilustra duas freiras ou bequinas que se divertem com um grupo de camponeses num barco construído de forma estranha: seu mastro é construído por uma arvore com folhas, um ramo partido serve de leme, estando sentado no cordame à direita um louco. Devido a esta figura, muitos autores viram alguma relação entre este quadro à Nau dos Loucos, de Sebastian Brant, cuja popularidade contemporânea é mostrada pela publicação de seis edições e numerosas traduções do poema, quando o autor ainda era vivo, Bosch deve ter conhecimento para a sua pintura, pois a nau era uma das metáforas mais populares da idade Média. O navio da igreja, por exemplo, com uma tripulação constituída por prelados e sacerdotes que levava as almas cristãs ao porto seguro do Céu, era uma imagem muito conhecida. Na peregrinação da vida humana, de Guillau